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REPORTAGEM 23 de maio de 2018

Acesso universal a energia: muito mais que eletricidade

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Esta??o de metr? movida a energia solar em Brasilia, Brasil            

Foto: Paulo Barros/Metr?-DF


Ainda h¨¢ muito a ser feito para fornecer ¨¤ popula??o mundial combust¨ªveis limpos, fontes renov¨¢veis modernas e tecnologias de efici¨ºncia energ¨¦tica

Voc¨º tem acesso a eletricidade confi¨¢vel em casa a um pre?o acess¨ªvel? E como ¨¦ o forno que voc¨º usa? ? el¨¦trico ou usa carv?o, gerando fuma?a toda vez que voc¨º cozinha?

Um bilh?o de pessoas (13% da popula??o mundial) ainda vive sem eletricidade e mais de 3 bilh?es (41%) usam combust¨ªveis poluentes para cozinhar, o que afeta sua sa¨²de, produtividade e qualidade de vida. ? por isso que as Na??es Unidas inclu¨ªram o acesso universal ¨¤ eletrifica??o e ¨¤s tecnologias limpas de cozinha entre os objetivos relacionados a energia a serem alcan?ados dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustent¨¢vel (ODS) at¨¦ 2030.

O ODS n¨²mero 7 tamb¨¦m requer um aumento substancial na participa??o de fontes renov¨¢veis modernas ??(solar, e¨®lica, hidrel¨¦trica e geot¨¦rmica, por exemplo) no mix energ¨¦tico global, al¨¦m de um uso mais eficiente da energia.

O novo estudo Monitorando o ODS 7: Relat¨®rio de Progresso Energ¨¦tico 2018 revela como o mundo est¨¢ avan?ando nos objetivos de acesso a eletricidade, combust¨ªveis limpos para cozinhar, energia renov¨¢vel e efici¨ºncia energ¨¦tica.

E embora o documento mostre que o mundo n?o est¨¢ fazendo o suficiente para cumprir essas metas at¨¦ 2030, ele destaca experi¨ºncias recentes que trazem esperan?a, principalmente na ?sia e na ?frica subsaariana, mas tamb¨¦m na Am¨¦rica Latina.

O relat¨®rio ¨¦ um esfor?o coletivo da Ag¨ºncia Internacional de Energia (IEA), da Ag¨ºncia Internacional de Energia Renov¨¢vel (IRENA), da Divis?o de Estat¨ªsticas das Na??es Unidas (UNSD), do Banco Mundial e da Organiza??o Mundial da Sa¨²de (OMS).

Acendendo a luz

At¨¦ 2030, espera-se que a Am¨¦rica Latina e o Caribe alcancem acesso quase universal a energia. Em toda a regi?o, o Haiti deve o ¨²nico pa¨ªs em que menos de 90% da popula??o estar¨¢ conectada.

Outra boa not¨ªcia vem da ?frica, onde nos ¨²ltimos anos a eletrifica??o ultrapassou o crescimento populacional pela primeira vez. Entre 2010 e 2016, Eti¨®pia, Qu¨ºnia e Tanz?nia conseguiram aumentar em 3% ao ano a parcela da popula??o com acesso a eletricidade. No mesmo per¨ªodo, na ?ndia, 30 milh?es de pessoas conquistavam acesso a eletricidade a cada ano. Nenhum outro pa¨ªs fez isso.

No entanto, ainda h¨¢ muito trabalho pela frente: se as tend¨ºncias atuais de acesso continuarem, 8% da popula??o mundial ainda estar¨¢ ¨¤s escuras at¨¦ 2030.

"A experi¨ºncia de pa¨ªses que aumentaram substancialmente o n¨²mero de pessoas com eletricidade em um curto espa?o de tempo oferece uma esperan?a real de que conseguiremos alcan?ar o bilh?o de pessoas que ainda vive sem eletricidade", diz Riccardo Puliti, diretor de Energia e Ind¨²strias Extrativas do Banco Mundial.

"Com as pol¨ªticas certas, investimentos em eletrifica??o dentro e fora da rede (como nos sistemas de energia solar para as casas), estruturas de financiamento bem adaptadas e mobiliza??o do setor privado, ¨¦ poss¨ªvel fazer grandes conquistas em alguns anos. Isso, por sua vez, ter¨¢ impactos reais e positivos nas perspectivas de desenvolvimento e na qualidade de vida de milh?es de pessoas", acrescenta.


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Dona de casa no Laos cozinha em um fog?o tradicional movido a lenha, o que gera polui??o do ar dom¨¦stico

Nico Hertweg/Banco Mundial


Combust¨ªveis limpos para cozinhar

Dentre os ODS para o setor de energia, o acesso a tecnologias limpas de cozinha ¨¦ o mais atrasado: se a atual trajet¨®ria de progresso continuar, 2.3 bilh?es de pessoas continuar?o a queimar madeira, carv?o e outros tipos de biomassa em 2030.

Esses m¨¦todos tradicionais causam polui??o dentro de casa, provocando cerca de 4 milh?es de mortes por ano, mais do que o HIV e a tuberculose juntos. Mulheres e crian?as correm os maiores riscos.

A lentid?o se deve ¨¤ baixa conscientiza??o dos consumidores, ao pouco financiamento para o setor, ao baixo progresso tecnol¨®gico e ¨¤ falta de infraestrutura para a produ??o e distribui??o de combust¨ªveis limpos, de acordo com o relat¨®rio. Entre as raras hist¨®rias de sucesso em todo o mundo, est?o as da Indon¨¦sia e do Vietn?, que proporcionaram acesso a mais 3% de suas popula??es ao ano entre 2010 e 2016.

O relat¨®rio tamb¨¦m destaca que, dos 20 pa¨ªses que mais avan?aram entre 2010 e 2016, quatro deles est?o na Am¨¦rica Latina: Guiana, Peru, El Salvador e Paraguai.

Energia renov¨¢vel

Em 2015, o mundo obteve 17,5% do seu consumo total de energia final a partir de fontes renov¨¢veis, dos quais 9,6% corresponderam a formas modernas de energia renov¨¢vel, como energia geot¨¦rmica, hidroel¨¦trica, solar e e¨®lica. O resto s?o usos tradicionais de biomassa (como lenha e carv?o).

Embora o ODS 7 n?o defina uma meta fixa para energia renov¨¢vel, clama por um "aumento substancial" na propor??o de fontes renov¨¢veis ??no mix energ¨¦tico global. Com base nas tend¨ºncias atuais, espera-se que a participa??o das renov¨¢veis chegue a apenas 21% at¨¦ 2030 (ante 16,7% em 2010), sem alcan?ar o aumento defendido pelas Na??es Unidas.

Transporte e aquecimento, que respondem por 80% do consumo global de energia, ainda precisam se tornar mais sustent¨¢veis. No transporte, por exemplo, apenas 2,8% do consumo energ¨¦tico veio de fontes renov¨¢veis em 2015.

As principais ¨¢reas de preocupa??o continuam sendo o transporte a¨¦reo, ferrovi¨¢rio e mar¨ªtimo, onde os percentuais de uso de biocombust¨ªveis (como etanol e biodiesel) s?o insignificantes no momento. J¨¢ para aquecimento, o uso tradicional de lenha e carv?o (entre outros tipos de biomassa) ainda representa 65% da cota de energia renov¨¢vel.

A eletricidade representa os 20% restantes do consumo global e obteve melhores resultados gra?as aos custos decrescentes das energias e¨®lica e solar. Nesse tema, em particular, a participa??o de fontes renov¨¢veis ??chegou a 22,8% em 2015. A energia hidrel¨¦trica continua a ser a principal fonte de eletricidade renov¨¢vel, mas a e¨®lica cresceu mais rapidamente de 2010 a 2015.

Na Am¨¦rica Latina, o Brasil se destaca por usar mais que o dobro da m¨¦dia global de fontes renov¨¢veis ??em eletricidade, aquecimento e transporte.

Efici¨ºncia energ¨¦tica

Melhorar a efici¨ºncia energ¨¦tica significa ser capaz de produzir mais com menos energia. E as evid¨ºncias mostram que o crescimento econ?mico e o uso de energia est?o cada vez mais dissociados. Entre 2010 e 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial cresceu quase duas vezes mais r¨¢pido que o fornecimento de energia prim¨¢ria. O crescimento econ?mico excedeu o avan?o no uso de energia em todas as regi?es, exceto na ?sia Ocidental.

Uma das m¨¦tricas mais importantes para essa meta dos ODS ¨¦ a intensidade energ¨¦tica - a propor??o de energia usada por unidade do PIB -, que caiu 2,8% em 2015, a queda mais r¨¢pida desde 2010. No entanto, ainda ¨¦ preciso avan?ar mais para dobrar a taxa global de melhoria na efici¨ºncia energ¨¦tica at¨¦ 2030.

A ind¨²stria, o maior setor de consumo de energia, tamb¨¦m fez o progresso mais r¨¢pido, reduzindo a intensidade de energia em 2,7% ao ano.



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