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REPORTAGEM

Cultura do caf¨¦ em S?o Paulo renasce com apoio a pequenos produtores

25 de setembro de 2013


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Com a colheitadeira mec?nica, os produtores Lu¨ªs Carlos ("Jap?o") e Carlos Alberto Bassetto conseguir?o aumentar o percentual do caf¨¦ vendido ao mercado fair trade.

Mariana Ceratti / World Bank

DESTAQUES
  • 8 mil fam¨ªlias rurais ganham acesso a mercados com a ajuda de um projeto que lhes oferece cr¨¦dito e assist¨ºncia t¨¦cnica.
  • Mais 14 mil ¨C entre elas, produtoras de mel, leite e hortali?as ¨C ser?o atendidas nos pr¨®ximos dois anos.
  • Produtores de caf¨¦ locais est?o melhorando a qualidade dos gr?os e aumentando as exporta??es para o mercado fair trade.

O novo e o antigo se encontram no momento em que os produtores de caf¨¦ Carlos Alberto e Lu¨ªs Carlos ¡°Jap?o¡± Bassetto olham para a c?mera. Nas m?os, os primos trazem a peneira usada h¨¢ muitos anos para separar os frutos das impurezas. Atr¨¢s deles, est¨¢ uma nov¨ªssima colheitadeira, capaz de fazer o trabalho de 80 pessoas/dia.

A foto foi tirada em Prat?nia, oeste de S?o Paulo, onde a maior parte da popula??o (5 mil pessoas) tira o sustento da agricultura.

L¨¢, a tecnologia ajuda a fam¨ªlia Bassetto ¨C e outros 113 produtores associados ¨C a ganhar espa?o no cobi?ado mercado dos caf¨¦s fair trade ("com¨¦rcio justo"). A cooperativa onde todos trabalham, fundada em 2004, produz em torno de 7 mil sacas ao ano. Os melhores gr?os j¨¢ podem ser encontrados nos Estados Unidos, Su¨ª?a e Nova Zel?ndia.

¡°Com a colheitadeira, podemos vender at¨¦ 70% da nossa produ??o (ante os atuais 50%) para as empresas do fair trade¡±, diz Jap?o. ¡°Elas exigem uma s¨¦rie de compromissos sociais e ambientais, mas tamb¨¦m garantem pre?o justo ao produtor.¡±

A m¨¢quina foi comprada com a ajuda de um projeto do Banco Mundial que permite a pequenos produtores ganhar acesso a mercados. Hoje, a iniciativa atende a 8 mil fam¨ªlias. Mais 14 mil ser?o beneficiadas at¨¦ o fim de 2015.

Colheitas melhores

Desde o in¨ªcio, em 2010, o projeto apoiou n?o s¨® produtores de caf¨¦, mas tamb¨¦m de mel, leite, gr?os, frutas e hortali?as. Eles agora conseguem aprender t¨¦cnicas agr¨ªcolas sustent¨¢veis, ajustar seus produtos ¨¤s normas sanit¨¢rias ¨C de modo a conseguir vender para as prefeituras locais, por exemplo ¨C e comprar equipamentos.

¡°A colheita do caf¨¦ exige muita m?o de obra, algo em falta na regi?o ultimamente¡±, explica Claudio Vivan, diretor t¨¦cnico do Escrit¨®rio de Desenvolvimento Rural de Botucatu, que atende aos pequenos agricultores de Prat?nia.

¡°Al¨¦m disso, o rendimento ¨¦ muito menor quando se colhe manualmente. O caf¨¦ tem um ponto ¨®timo at¨¦ o qual ele pode ficar na planta com qualidade. Com a m¨¢quina, torna-se poss¨ªvel produzir mais caf¨¦ no ponto ideal.¡±

Crescimento desigual

O Brasil est¨¢ entre os pa¨ªses que mais produzem e consomem caf¨¦. E, particularmente em S?o Paulo, o gr?o deu g¨¢s ao desenvolvimento local entre os anos 1940 e 1970. Com o crescimento econ?mico desse per¨ªodo, estradas foram constru¨ªdas e cidades cresceram.

Depois disso, por¨¦m, os produtores enfrentaram pragas, condi??es clim¨¢ticas desfavor¨¢veis e a queda global nos pre?os do caf¨¦. Desanimados, muitos deles trocaram de cultura ou deixaram suas terras.


" Meu av? Giocondo adoraria ver os parentes voltando para essas terras e sonhando mais uma vez "

Lu¨ªs Carlos "Japao" Bassetto

Produtor de caf¨¦

¡°Em geral, o desempenho da agricultura em S?o Paulo ¨¦ muito bom. No entanto, esse sucesso mascara a falta de oportunidades e os problemas de renda entre os agricultores familiares, que representam 80% das unidades de produ??o no estado. Cerca de 40% dos produtores familiares vivem com menos de dois sal¨¢rios m¨ªnimos mensais¡±, diz Marianne Grosclaude, gerente do projeto no Banco Mundial.

¡°O crescimento desordenado tamb¨¦m levou ¨¤ degrada??o dos recursos naturais da regi?o. Por isso acreditamos ser t?o importante apoiar os esfor?os desses pequenos produtores para ganhar mercados e reduzir danos ambientais¡±, completa.

Frutos do trabalho

Essa e outras iniciativas deram aos produtores de S?o Paulo for?a para ir adiante. Com apoio do Sebrae, por exemplo, a cooperativa onde os Bassettos trabalham obteve a certifica??o fair trade em 2008.

¡°Mas por dois anos n?o conseguimos vender uma saca sequer para esse mercado, foi muito dif¨ªcil; em 2010, finalmente deu certo¡±, lembra Jap?o. ¡°Agora conseguimos at¨¦ pagar plano de sa¨²de para os cooperados.¡±

O grupo tamb¨¦m sonha construir uma sala de provas onde especialistas e compradores poderiam degustar o caf¨¦ antes de finalmente compr¨¢-lo.

Para Jap?o, todas essas conquistas orgulhariam o patriarca Giocondo Bassetto, italiano que chegou ao Brasil em 1896 e come?ou a cafeicultura em Prat?nia. ¡°Ele adoraria ver os parentes voltando para essas terras e sonhando mais uma vez.¡±


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