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REPORTAGEM29 de mar?o de 2024

Promover a igualdade de g¨¦nero e o empoderamento das mulheres em Angola por meio da educa??o de segunda oportunidade

Elizabeth Afonso Gonga tem uma rotina fixa durante a semana. Todas as manh?s, ¨¤s 7h00, chega ao mercado do KM-30, um grande espa?o situado nos arredores de Luanda. Uma vez l¨¢, limpa a sua banca e arruma os produtos - entre os quais feij?o, arroz e amendoins - que vai vender durante o dia para ganhar a vida e sustentar a fam¨ªlia. Depois disso, entre as 7h30 e as 9h30, frequenta aulas de educa??o de adultos numa das duas salas constru¨ªdas pela administra??o do mercado para dar aulas de alfabetiza??o aos vendedores. Durante a sua aus¨ºncia, a sua colega Joana Domingos toma conta da sua banca e trata das vendas em seu nome. Quando Isabel regressa, ¨¦ a sua vez de tomar conta da banca de Joana, enquanto a sua amiga frequenta uma aula semelhante, das 9h45 ¨¤s 11h15.

O mercado KM-30 ¨¦ o maior centro de distribui??o de produtos agr¨ªcolas em Angola. Espalhado por 1,9 milh?es de metros quadrados, tem sete pavilh?es e cerca de 3.500 comerciantes registados. Todos os dias, recebe cami?es carregados de produtos alimentares como legumes, frutas, tub¨¦rculos, gado bovino, caprino, su¨ªno e aves de cria??o, a maioria dos quais provenientes do interior do pa¨ªs.

A grande maioria dos comerciantes do mercado KM-30 s?o mulheres que, infelizmente, nunca tiveram a oportunidade de receber uma educa??o e de adquirir compet¨ºncias b¨¢sicas de leitura e escrita. Em 2018, o Instituto Nacional de Estat¨ªstica de Angola publicou dados que indicavam que a taxa de analfabetismo do pa¨ªs era de 24%. No entanto, uma an¨¢lise mais aprofundada dos dados, baseada no g¨¦nero, revelou uma disparidade significativa entre homens e mulheres: enquanto apenas 12% dos homens eram analfabetos, a taxa entre as mulheres era superior a 42%. Esta disparidade deve-se a uma s¨¦rie de factores, que incluem a discrimina??o cultural e baseada no g¨¦nero, a falta de acesso ¨¤ educa??o e a pobreza.

Para combater o analfabetismo entre as mulheres, o Minist¨¦rio da Educa??o de Angola expandiu o programa de educa??o de segunda oportunidade no ?mbito do , apoiado pelo Banco Mundial. Esta expans?o proporciona ¨¤s raparigas e rapazes com idade igual ou superior a 15 anos que n?o frequentam a escola uma segunda oportunidade para completarem a sua educa??o e adquirirem compet¨ºncias valiosas para a vida.

Esta iniciativa oferece um ambiente de aprendizagem seguro e solid¨¢rio no qual os indiv¨ªduos podem melhorar as suas capacidades de leitura e escrita e aprender aritm¨¦tica b¨¢sica, um conjunto importante de compet¨ºncias que os pode ajudar a tomar decis?es informadas para os seus neg¨®cios comerciais e noutras ¨¢reas das suas vidas.

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Alunos do ensino de segunda oportunidade no mercado KM-30. Foto: Wilson Piassa

Nos ¨²ltimos anos, foram criadas muitas salas de aulas de educa??o de segunda oportunidade em mercados, pris?es e igrejas em Angola. A Isabel e a Joana s?o duas das mulheres que frequentam as aulas no mercado ao ar livre do KM-30. N?o est?o sozinhas: muitas outras mulheres do mercado tamb¨¦m frequentam as aulas, reconhecendo o programa como a sua ¨²nica hip¨®tese de adquirir as compet¨ºncias de que necessitam para ter ¨ºxito. Gra?as ao projeto e a estas aulas de segunda oportunidade, t¨ºm agora esperan?a num futuro melhor.

Decidi prosseguir os estudos para adquirir conhecimentos acad¨¦micos. O meu desejo de inf?ncia era ser enfermeira, e esse sonho ainda est¨¢ vivo dentro de mim. Estou confiante de que posso realizar o meu sonho continuando a minha educa??o e tornando-me parteira, que ¨¦ muito necess¨¢ria nas nossas comunidades e no sector da sa¨²de. Como o governo exige que mulheres experientes trabalhem na maternidade, aspiro a satisfazer esta necessidade e a tornar o meu sonho realidade.
Elizabeth Afonso Gonga

Juliana Sakembe, de 73 anos de idade, tamb¨¦m frequenta as aulas no mercado KM-30. ? a aluna mais velha da turma e a sua paix?o pela aprendizagem tornou-se uma inspira??o para as mulheres e homens mais jovens do mercado. Juliana est¨¢ determinada a melhorar as suas compet¨ºncias de literacia por duas raz?es: primeiro, para poder educar melhor os netos e, segundo, para ler a B¨ªblia e os hinos da sua igreja.

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Juliana Sakembe ina sale de aulas. Foto: Wilson Piassa

"Atualmente, estou a estudar para melhorar as minhas capacidades de leitura e escrita, de modo a poder ajudar melhor os meus netos", diz ela. "Embora os meus filhos j¨¢ tenham crescido, continuo a tomar conta de alguns dos meus netos, que trazem frequentemente cartas e avisos da escola para casa. Saber ler estas notifica??es ¨¦ essencial, pois ajuda-me a manter-me informada sobre o que est¨¢ a acontecer na sua educa??o e se eles podem estar a ter dificuldades. Ler e escrever s?o conhecimentos importantes que nos permitem estar atentos e tomar boas decis?es. Mesmo quando se trata de compreender a B¨ªblia na igreja, a leitura e a escrita s?o importantes".

Atualmente, est¨¢ no terceiro ciclo de alfabetiza??o e orgulha-se da sua capacidade de assinar o nome e ler textos simples. Os seus resultados acad¨¦micos e a sua experi¨ºncia tornaram-na uma fonte de inspira??o, um modelo a seguir e uma ativista da educa??o das mulheres no mercado KM-30 de Angola.

"Aconselho sempre as mulheres mais jovens a pensar nos seus filhos", ela continua. "Recordo-lhes que nunca devem ter vergonha de frequentar aulas de alfabetiza??o na sua idade. Ser analfabeto ¨¦ algo de que se devem envergonhar, n?o de estudar em adulto. Encorajo-as a compreender que dar comida e roupa aos filhos ¨¦ importante, mas n?o ¨¦ suficiente. Devem tamb¨¦m acompanhar a educa??o dos seus filhos. ? por isso que ¨¦ fundamental saber ler e escrever".

Alguns dos professores que d?o aulas de segunda oportunidade j¨¢ foram eles pr¨®prios estudantes de educa??o de adultos. Durante a sua visita ¨¤s aulas de alfabetiza??o na KM-30, o Diretor Evaristo Pedro, Diretor Nacional da Dire??o de Educa??o de Jovens e Adultos do Minist¨¦rio da Educa??o, ficou cheio de alegria quando um dos seus antigos alunos de h¨¢ 15 anos se aproximou e o abra?ou. Este antigo aluno tinha tido aulas de alfabetiza??o antes de se tornar professor para ajudar outros adultos a aprender a ler e a escrever.

"N?o tenho palavras para expressar a emo??o que sinto ao ver Domingos Castro a ensinar e a ajudar outros angolanos a ler e a escrever. Isto mostra que os nossos esfor?os valeram a pena", disse Evaristo Pedro. ¡°Angola tem uma elevada taxa de analfabetismo, sobretudo entre as mulheres. O nosso foco ¨¦ servir estas mulheres, e queremos garantir que as nossas aulas de alfabetiza??o est?o alinhadas com a sua realidade. No mercado KM-30, estas mulheres est?o a aprender apesar de terem de abdicar de duas horas do seu dia e deixar os seus empregos ou neg¨®cios para estudar. Elas est?o empenhadas em adquirir outras habilidades que as ajudar?o a encontrar melhores caminhos em suas vidas. ? por isso que estamos a oferecer educa??o para adultos aqui, para garantir educa??o para todos."

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