Como a silvicultura comunit¨¢ria come?ou na Am¨¦rica Latina e, sobretudo, nos pa¨ªses do PSA?
A silvicultura comunit¨¢ria come?ou em momentos diferentes em cada pa¨ªs do programa. O Brasil tem muita experi¨ºncia com diversos tipos e n¨ªveis de manejo florestal. Em alguns casos, foi com povos ind¨ªgenas; em outros casos, com pessoas sem posse da terra, mas que viviam na floresta. No Peru, o manejo florestal inicialmente se concentrava apenas em produtos madeireiros e n?o envolvia as comunidades locais. H¨¢ apenas 15 anos, as concess?es florestais comunit¨¢rias foram estabelecidas como uma nova abordagem. J¨¢ na Col?mbia, agora estamos iniciando o manejo florestal comunit¨¢rio em Guaviare, na regi?o amaz?nica.
Al¨¦m dos pa¨ªses do PSA, que ainda est?o aperfei?oando sua abordagem, ocorreram casos bem?sucedidos de florestas comunit¨¢rias na Guatemala e em outros lugares da Am¨¦rica Central, onde a popula??o local tem um hist¨®rico de mais de 20 anos de ¨ºxitos com as concess?es florestais comunit¨¢rias.
Que elementos definem uma concess?o florestal comunit¨¢ria em compara??o com outros regimes de manejo florestal?
As concess?es florestais comunit¨¢rias s?o um modelo singular de manejo florestal. Exigem uma legisla??o que reconhe?a a capacidade das organiza??es ou fam¨ªlias locais (e n?o uma ¨²nica pessoa) de ter controle, governan?a e uma estrat¨¦gia de manejo de longo prazo para uma ¨¢rea espec¨ªfica e bem definida. As pessoas podem ser residentes ou n?o residentes e viver dentro ou fora da ¨¢rea. Outros tipos de regimes de manejo concentram-se em indiv¨ªduos, como agricultores, ou ind¨²strias; eles n?o t¨ºm uma estrat¨¦gia de longo prazo para o manejo florestal nem disp?em de uma estrat¨¦gia intergeracional para as pessoas locais.
Reunir as comunidades e organiz¨¢-las ¨¦ um desafio. O que ¨¦ necess¨¢rio para superar esses desafios na regi?o amaz?nica?
? claro que h¨¢ desafios. O manejo comunit¨¢rio das florestas exige n?o apenas condi??es favor¨¢veis em termos de ecossistema e clima, mas tamb¨¦m uma combina??o da mentalidade e capacidade adequadas, a exist¨ºncia de organiza??es locais fortes que trabalhem em colabora??o com os principais atores p¨²blicos e privados, e a legisla??o apropriada para oferecer seguran?a fundi¨¢ria e condi??es que permitam o manejo sustent¨¢vel da ¨¢rea no longo prazo.
Como essa abordagem beneficiou as comunidades e qual ¨¦ o incentivo para que um agricultor se envolva e se mantenha comprometido?
Os atores e benef¨ªcios econ?micos diferem de pa¨ªs para pa¨ªs. No Peru, as comunidades receberam o direito de exercer diretamente o manejo florestal e atuam como autoridades locais. No caso dos povos ind¨ªgenas, essa tem sido uma oportunidade de fortalecer sua cultura e manter o controle sobre seu territ¨®rio ancestral. J¨¢ no Brasil, as concess?es florestais se tornaram uma oportunidade para grupos de diferentes tipos, n?o apenas ind¨ªgenas, com diferentes tipos de manejo florestal, com apoio governamental e n?o governamental.
Na Col?mbia, as a??es para promover o manejo florestal comunit¨¢rio est?o apenas come?ando. Com o apoio do PSA e esfor?os de parceiros, abrimos a porta e iniciamos as discuss?es. Essa poderia ser a oportunidade de estabelecer parcerias entre governos e popula??es locais. A Col?mbia precisar¨¢ mudar uma legisla??o mais de 60 anos, que n?o reconhece as comunidades como gestores de florestas. Aprender com os exemplos exitosos de outros pa¨ªses ¨¦ um passo na dire??o certa.
Qual ¨¦ o papel atual ou potencial das mulheres e dos jovens na silvicultura comunit¨¢ria, e como o PSA pode ajudar a ampliar o envolvimento desses grupos?
Na Guatemala, mais de 78% dos produtos n?o madeireiros s?o manejados por jovens. Os jovens e as mulheres t¨ºm uma oportunidade clara de beneficiar e desenvolver produtos n?o madeireiros, como os que exigem o trabalho meticuloso de colher e processar flores, folhas e fibras. O ecoturismo tamb¨¦m ¨¦ beneficiado pela participa??o de jovens e idosos, que conhecem a cultura local e est?o ansiosos para dividir sua experi¨ºncia com os outros.
Com o passar do tempo, vi muitos jovens perderem o interesse nas florestas e migrarem para as cidades ou outras ¨¢reas urbanas. Mas, no momento, muitos deles est?o reavaliando as oportunidades oferecidas pelas florestas em suas ¨¢reas locais. Por exemplo, no Peru e na Col?mbia, muitos jovens n?o querem se envolver em atividades ilegais, como a minera??o, o cultivo ilegal de madeira e coca, e o tr¨¢fico de animais silvestres. Em vez disso, est?o dizendo: ¡°Quero ficar aqui pela minha terra¡±. ? muito emocionante para n¨®s ver essas decis?es e o impacto positivo que elas t¨ºm sobre o meio ambiente.
O PSA pode ajudar ao identificar hist¨®rias de sucesso que possam ser estendidas para outras ¨¢reas da regi?o, bem como promovendo casos-piloto de concess?es florestais, como aquele para o qual estamos trabalhando na Col?mbia com produtos florestais n?o madeireiros. O PSA tamb¨¦m pode facilitar o compromisso pol¨ªtico de representantes de alto escal?o do governo e ajudar a desenvolver a capacidade local para integrar pol¨ªticas p¨²blicas aos esfor?os em campo.
Quais s?o os pr¨®ximos passos para a silvicultura comunit¨¢ria?
No ano passado, o desmatamento aumentou em todos os pa¨ªses da Am¨¦rica Latina, exceto nas concess?es florestais na Guatemala, segundo a .
O caminho a seguir ¨¦ diferente para cada um dos tr¨ºs pa¨ªses do PSA. No Peru, ¨¦ preciso trabalhar com os governos regionais, aumentando o ecoturismo e expandindo os modelos de concess?o para o manejo de longo prazo de modo a abranger os produtos n?o madeireiros. No Brasil, existe a oportunidade de desenvolver ainda mais os produtos n?o madeireiros e as cadeias de valor sustent¨¢veis. J¨¢ na Col?mbia, uma estrat¨¦gia mista de uso sustent¨¢vel de recursos n?o madeireiros, turismo e pagamento por servi?os ambientais poderia ser uma das propostas mais fortes para conter o desmatamento na regi?o amaz?nica.
De modo geral, precisamos promover uma mudan?a de comportamento e uma mudan?a cultural para incorporar um modelo diferente em que as pessoas reconhe?am a floresta como um bem essencial em seu territ¨®rio e mantenham e desenvolvam uma rela??o de longo prazo com ela pelos seus benef¨ªcios econ?micos e valor cultural.